Review: Octopath Traveler (Switch)






Octopath Traveler foi anunciado na conferência de revelação do Nintendo Switch com o nome temporário de Project Octopath Traveler e foi lançado no ano seguinte em julho de 2018. O jogo trás de volta a nostalgia da era 16 bits com alguns elementos em alta definição da atual geração e podemos ver também títulos clássicos da Square como Final Fantasy VI servindo de inspiração para este game.


A Jornada de oito herĂłis


Diferente de qualquer outro JRPG que já joguei onde o protagonista tem que seguir sua clássica jornada e acaba encontrando amigos e estes participam se envolvem na trama, Octopath conta a história de oito viajantes separadamente. Cada herói protagoniza sua própria história sem interferir/participar na do outro.

Logo no início você pode escolher qualquer um dos oito para começar o jogo. Aquele que for escolhido será seu protagonista e ele não poderá ser removido da party até completar todos os quatro capítulos referentes ao próprio conto. Quando o primeiro capítulo do seu aventureiro for concluído, você segue para a cidade seguinte para encontrar o próximo e com ele se juntando a equipe, a nova aventura se inicia. Deve-se fazer isso com todos.

Durante os eventos acontecem pequenos diálogos entre o grupo. Eles se dão apoio, conselhos e às vezes agem como se estivessem ajudando o viajante da vez, mesmo não participando durante da trama. Por exemplo, se acontece uma conversa com alguém da party e esse alguém diz que vai te ajudar, quando chega na hora da cena, o herói em questão estará sempre só. É como se eles desaparecessem nessa hora. É meio estranho, mas dá para se acostumar.

Com oito diferentes contos, obviamente o jogador vai ter os seus preferidos, assim como os heróis. O legal é que tais distintas aventuras são divertidas e os personagens possuem bastante carisma. O game passa por contos leves e emocionantes ou contos dramáticos e com temas sérios, sejam em estórias como da Primrose, Olberic ou Therion, que seguem a temática sobre a vingança e traição e outras como da Tressa, Alfyn ou Ophilia, que são contos mais leves e baseados em aventuras ou vontade de ajudar o próximo.

Apesar de todas as aventuras serem contadas separadamente, elas acabam se ligando. Você percebe que existem pontos em comum no enredo de cada um. Depois que todos os capítulos são encerrados, é possível acessar a dungeon do verdadeiro Final Boss através de uma side quest. Nessa dungeon contém a lore ligando a história de todos, só que não espere que essa ligação seja aquele super plot twist. Em alguns casos é algo super simples, então cuidado com as expectativas na lore.



Quem vocĂŞ vai escolher primeiro?


Oito diferentes aventuras


O continente de Orsterra Ă© o lugar que acontece o enredo do jogo. Orsterra foi fundada por treze deuses e quando um deles, Galdera, decidiu tomar o poder para si, o confronto começou. Os doze enfrentaram Galdera e no fim, Aelfric – o portador da chama sagrada usou suas chamas azuis e selou o Deus maligno em uma dimensĂŁo a parte. Na atualidade as pessoas seguem a religiĂŁo da chama sagrada de Aelfric e há doze jobs presentes no jogo que sĂŁo baseados no poder desses deuses.

É neste mundo que os viajantes vivem.



Oberick Eisenberg

Cavaleiro do reino caĂ­do de Hornburg. Olberic perdeu tudo na guerra - o Rei a quem servia e o reino, graças Ă  traição do seu melhor amigo, Erhardt. Oito anos se passaram e ele vive em um vilarejo em Cobbleston, disfarçado com o nome de “Berg”, ensinando Ă s pessoas a arte da espada e questionando a si qual o motivo de ainda usar a lâmina, já que ele perdeu o seu propĂłsito.

Até que certo dia, com certos acontecimentos ele descobre que o ex-amigo ainda está vivo, isso dá um novo propósito a Olberic.

Primrose Azelhart


Primrose nasceu na nobre casa Azelhart. Há dez anos, teve o pai assassinado por trĂŞs homens carregando a marca do corvo. Ela jura vingança e viaja por vários lugares, procurando pistas dos assassinos, atĂ© descobrir notĂ­cias, dois anos antes dos eventos do jogo e vai parar em Sunshade – cidade no meio do deserto como dançarina, na esperança de encontrar um dos assassinos e iniciar sua vingança.




Tressa Colzione

A jovem Tressa é filha de comerciantes na cidade costeira de Rippletide. A garota herdou dos pais a veia pro comércio e é excelente na arte de barganhar. Tressa sempre observa o mar, imaginando o que existe além, até que um dia, piratas aparecem e acabam roubando os pertences das pessoas da cidade. Ao confrontá-los com a ajuda de uma pessoa, ela recebe um diário pertencente a um aventureiro desconhecido, então Tressa decide seguir os passos daquele que a inspirou, esperando conhecer mais sobre o mundo, tesouros e se tornar uma comerciante melhor.




Ophilia Clement

Ophilia é uma clériga que está na Ordem da Chama, um tipo de religião que adora a chama sagrada do Deus Aelfric. A garota vive na fria cidade de Flamesgrace e foi adotada pelo Bispo da igreja quando era criança. Hoje vive com ele e sua irmã (filha verdadeira do sacerdote), Lyanna.

Lyanna começaria a peregrinação do ritual sagrado chamado Kindling, onde a cada vinte anos, um membro da Ordem deve coletar a chama de Aelfric e viajar para diversas cidades em peregrinação, porém, algo infeliz acontece.





Cyrus Albright

Professor na Academia Real de Atlasdam. Cyrus é brilhante, tem excelente capacidade de dedução e sede de conhecimento, assim como também é galante e sabe usar as palavras para atrair a atenção das damas, mas é lento para esses assuntos, pois faz isso sem querer.

Como professor, Cyrus acredita fervorosamente que o conhecimento deve ser compartilhado para todos e durante uma pesquisa na biblioteca, descobre que muitos tomos estão desaparecidos, então ele começa uma investigação e ao descobrir que um tomo em especial e bem perigoso está desaparecido há tempos, Cyrus sai em jornada para tentar resolver o mistério.



Therion


O ladrão da equipe. Após chegar em Cobblestone e ouvir rumores de que a mansão Ravus tinha tesouros que nenhum ladrão poderia afanar, ele se interessa pelo assunto e decide se testar para provar que é o melhor. Após realizar várias investigações pelas tavernas e outros locais, ele consegue adentrar na luxuosa mansão, porém nem tudo sai como esperado.







Alfyn Greengrass

Alfyn é um jovem apotecário no pequeno vilarejo de Clearbrook. Durante a infância, foi curado de uma doença fatal, por um misterioso apotecário com habilidades surpreendentes. O homem curava sem pedir nada em troca. Isso inspira Alfyn a seguir os passos do ídolo e junto com seu melhor amigo Zeph, os dois estudaram bastante e se tornaram apotecários do vilarejo. Alfyn tem um sonho de ser como aquele homem, mas é um tanto hesitante sobre deixar a vila, então acaba sendo convencido pelo amigo e decide viajar por Orsterra para cuidar pessoas, da mesma forma que o misterioso homem que salvou sua vida o tratou.

H’aanit

A Caçadora das florestas que Ă© acompanhada pela leoparda branca, Linde, sua parceira. H’aanit perdeu os pais na infância e foi criada e treinada pelo infame caçador Z’aanta. ApĂłs o mestre viajar para caçar a terrĂ­vel criatura chamada de Redeye, que representava perigo para muitos, a moça permaneceu protegendo o vilarejo em Swarkii por um ano. Mas apĂłs receber notĂ­cias preocupantes a moça sai em sua prĂłpria jornada.




Gameplay

Octopath segue o tradicional estilo por turno, com encontros aleatórios que lembra os clássicos Final Fantasies. Você dá um passo e abre a tela de batalha. Às vezes você é surpreendido e o inimigo ataca primeiro e às vezes você surpreende e começa a ação.

Seguindo o ataque por turnos, os personagens mais rápidos e com habilidades de atacar duas vezes ou mais agem primeiro e depois o inimigo ataca. Você pode atrasar a ação inimiga usando certas habilidades ou causar Break - quando um tipo de escudo do adversário é atingido várias vezes e é quebrado, então ele perde a ação na rodada e fica vulnerável qualquer tipo de armas ou magia, mas ele também pode tomar vantagem e atrapalhar suas ações.

Durante o combate existem os chamados BP (Boost Points) e a cada turno acumula-se um ponto. Quando a barra de BP está cheia, deve-se apertar R e usar até 4 BP por vez fazendo o personagem atacar até quatro vezes ou melhorar uma habilidade especial ou magia.



Deve-se acumular Boost Points para aumentar o dano.

Cada um dos oito tambĂ©m possuem os chamados Path Action, que sĂŁo comandos que possibilitam interação com NPCs. Por exemplo, Ophilia e Primrose usam Guide e Alure, que possibilita que pessoas acompanhem temporariamente a equipe. Olberic e H’aanit possuem o Challenge e Provoke que serve para batalhar contra NPC’s. Therion e Tressa tĂŞm o Steal e o Purchase, que vocĂŞ pode roubar ou comprar itens com um excelente desconto e por fim, Alfyn e Cyrus com Scrutinize e Inquire que serve para obter informações. Tais comandos sĂŁo essenciais para progredir em side quests e conseguir itens, mas cuidado. As vezes um NPC tem um nĂ­vel muito alto para desafiar ou outros tem uma porcentagem baixa para interrogar ou atrair. Caso vocĂŞ falhe na tentativa, sua reputação na cidade cai e quando a reputação atinge o limite crĂ­tico, Ă© necessário ir Ă  taverna e pagar algum valor para recuperá-la.

Os heróis também contam com um talento especial. Eles podem convocar os NPCs chamados para a batalha, com o comando summon ou capturar monstros para lutar junto com o grupo, usar itens poderosos, identificar a fraqueza do adversário ou ganhar mais dinheiro. O talent é exclusivo de cada um, assim como o path action e não muda quando se troca de job.



Cuidado ao desafiar/atrair/roubar/interrogar um NPC. Eles podem ser poderosos demais para vocĂŞ.

Jobs

Por falar em job, Octopath conta com esse sistema. Cada viajante possui sua classe primária e ao encontrar shrines referentes a tal, você ganha as jobs secundárias, permitindo deixá-los com duas diferentes Jobs, podendo assim fazer boas combinações como ter um dancer/warrior ou um thief/scholar. Combinar boas classes é essencial à medida que o jogo avança.

Fora as oito jobs básicas tambĂ©m existem os shrines das 4 jobs “avançadas" que sĂŁo fundamentais para os chefes mais fortes do jogo. Conseguindo essas classes o seu time pode ficar extremamente poderoso.



Existem doze jobs disponĂ­veis no jogo.

Para fortalecer uma job em especĂ­fico, Ă© necessário obter os chamados JP (Job Points), que sĂŁo pontos distribuĂ­dos no final de cada batalha, junto com a experiĂŞncia. Ao adquirir certa quantidade de JP, Ă© possĂ­vel “comprar” a habilidade referente aquele trabalho. Para cada habilidade comprada, outra de suporte Ă© liberada e entĂŁo fazendo boas combinações de Jobs primárias e secundárias e aprendendo as skills de ambas, dá para evitar encontros aleatĂłrios com monstros, ultrapassar o dano causado, se curar alĂ©m do HP ou entrar nas batalhas com buffs ou estender buffs ou debuffs por mais um turno.

Quando todas as Skills básicas são adquiridas, a Skill divina fica disponível para ser comprada. Essas habilidades divinas são ativadas por quatro BPs e são um tipo de golpe especial. Dependendo da job, a skill divina pode ser tanto de ataque quanto para melhorar os status do time e com duas classes dá pra usar duas skills divinas.



Combinar jobs e equipar as skills de cada Ă© a chave para tornar os pensonagens mais fortes.

Nostalgia Ă© bom, mas...

O jeito Final Fantasy e gráficos 16 bits são legais. Toda a pegada nostálgica é boa, mas infelizmente Octopath também trouxe coisas que já ficaram datadas como o grinding interminável.

Ganhar experiĂŞncia no Octopath Ă© sofrĂ­vel. Assim que vocĂŞ inicia um capĂ­tulo, nĂŁo dá para seguir pro prĂłximo do mesmo aventureiro porque o nĂ­vel de experiĂŞncia exigido Ă© alto. Se vocĂŞ começa com o Olberic, por exemplo, ele vai estar no level 01. O primeiro capĂ­tulo dele Ă© recomendado o level 05, o que Ă© tranquilo, mas se vocĂŞ quiser ir direto para o prĂłximo, o level exigido Ă© 27, entĂŁo vocĂŞ Ă© “forçado” a formar um grupo, treinar e passar pela aventura de todos. Os outros personagens nĂŁo escolhidos ficam esperando na taverna e por estarem lá, eles nĂŁo ganham experiĂŞncia e essa Ă© a parte chata. VocĂŞ acaba sendo obrigado a usar todos e nĂŁo ter uma party fixa e por isso, o nĂ­vel deles nĂŁo sobe o suficiente e a experiĂŞncia adquirida dos lugares obrigatĂłrios Ă© mĂ­nima.

O meu protagonista foi o único que teve o nível que os capítulos exigiam, afinal ele não pode ser removido, mas os outros sempre ficavam abaixo do exigido e por causa disso, upar era necessário e longo, afinal os inimigos em todo lugar dão pouquíssima experiência, assim como pouco JP.

Geralmente nos jogos atuais, se ganha XP realizando Side Quests e isso tem bastante no game, mas infelizmente elas sĂł dĂŁo itens, fora as raras quests que precisa matar algum monstro em alguma dungeon, mas nesse caso a experiĂŞncia vem da batalha. NĂŁo se ganha XP completando as quest, apenas alguns itens ou armaduras. Isso Ă© um tanto frustrante.

Felizmente os desenvolvedores devem ter pensado nas horas que levaria subindo nível, então colocaram no Dancer uma técnica que pode dar 100 vezes o XP adquirido ou dar morte instantânea no time inteiro, o que torna o grind menos chato, mas em compensação você fica brincando de roleta russa.

A skill chamada Bewildering Grace dá bônus de forma bem aleatória. Pode curar todos, buffar, dar até 100 vezes XP ou JP, assim como também pode envenenar seu grupo, silenciar, impedir de usar itens, curar o inimigo dar morte instantânea. Eu, que sou um tanto azarada conseguia mais o dobro de experiência, JP e debuffs do que o número 100.

Outra coisa que não envelheceu bem são os encontros aleatórios com os inimigos. Você da um passo e caiu numa emboscada e não pode fugir ou o inimigo atacou primeiro e não dá pra escapar do combate. Eu particularmente não vejo isso como um problema exatamente, mas se jogos como Chrono Trigger, naquela época te permitiam ver os monstros no cenário e desviar deles, isso poderia ter sido feito em Octopath também e mesmo o Scholar tendo uma skill que permite evitar um pouco encontros aleatórios, dependendo do que você está fazendo, isso se torna pra lá de irritante.



Encontros aleatĂłrios sĂŁo cansativos, junto com o grinding excessivo.

PadrĂŁo

Infelizmente as estórias seguem um padrão nesse jogo. Você escolhe alguém, chega à cidade, usa o Path Action para resolver alguma coisa, acontecem às cenas e então seu aventureiro precisa seguir para alguma floresta/caverna/mansão. As mansões têm exatamente a mesma estética. Você só tem certeza que não está no mesmo lugar porque o caminho muda. As florestas também são muito parecidas e depois de enfrentar o boss, você retorna pra cidade onde acontecem cenas e o personagem segue viagem.

Pelo fato de alguns contos serem interessantes, assim como o carisma dos membros da equipe, felizmente nĂŁo se presta muita atenção para esse padrĂŁo (Mas nas mansões nĂŁo teve como eu nĂŁo me incomodar. Parecia os mesmos locais.) e dá pra seguir para o prĂłxima jornada bem feliz. 

Vale a compra?

Sim, mesmo que alguns elementos do jogo tragam algumas coisas que nem todos gostam mais nos JRPGs, Octopath Traveler vale o gasto. A história é excelente e ter oito delas e um protagonista para cada foi uma idéia fantástica. As oito jornadas se ligando pela lore e o verdadeiro Final Boss ser inclusive o inimigo mais forte do jogo fez total sentido e ficou perfeito.

O design do jogo é lindo. Misturar o 16 bits dos personagens com a alta definição de alguns elementos do cenário foi um acerto, pois assim o jogo não fica com aquele jeito de jogo antigo e cenário datado, trazendo apenas a boa sensação nostálgica. Todas as ilustrações presentes seguem o estilo "livro de história" que o game tem e são artes belíssimas, ao invés dos clássicos estilos mangá/chibi que é muito comum nos JRPGs. Um verdadeiro presente aos olhos.

A trilha sonora é impecável e o carisma do time compensa qualquer falha. Não tem como não se emocionar com a aventura do Alfyn, sorrir com o jeito da Tressa ou tentar imaginar se existe algo sombrio por trás da trama do Cyrus ou Primrose. À medida que o jogo avança você tenta ligar as informações que o jogo te dá e no final, a Lore está completa, te esperando na dungeon final, em troca do maior desafio do game.

Octopath Traveler é um Must Buy para o Nintendo Switch. Se fosse um JPRG lançado na era 16 bits, sem dúvidas seria um clássico. Você pode até não simpatizar com os gráficos e a idéia de batalha com encontros aleatórios, mas vale à pena dar uma chance.


O design de Octopath Ă© muito charmoso

Pontos Positivos:

  • Diferentes histĂłrias e diferentes protagonistas
  • Trilha sonora excelente
  • Nostalgia, que remete a clássicos como Final Fantasy VI
  • Sistema de batalha agradável
  • Carisma dos personagens 

Pontos Negativos:

  • Pouca experiĂŞncia resultando em grindings intermináveis
  • Dungeons muito parecidas
  • Side quests que nĂŁo dĂŁo experiĂŞncia
  • Encontros aleatĂłrios com inimigos


Octopath Traveler (Switch)
Nota: 85/100
Um JRPG Essencial para a biblioteca do hĂ­brido