[Retro Gear] A intimidação em Bloodborne (PS4)


Em qualquer mídia de entretenimento que se preze, o que o desenvolvedor mais quer oferecer aos telespectadores é algum sentimento. Seja alegria ou tristeza, o que querem é que você sinta algo sobre tal obra. Esse conceito é levado bem a sério principalmente no cinema, onde diversos elementos fazem quem assistir ficar preso na atmosfera que o filme dá, e nos video-games é o mesmo. 

Desde o princípio, os games traziam uma experiência simples, mas que prendia os jogadores independente do quão simplório que o jogo seja. Existe alguns fatores que causam a captura de um indivíduo em um jogo, como a história, a jogabilidade, a dificuldade, ou até mesmo a sede em desvendar cada canto dos lugares a procura de surpresas – um exemplo disso se vai com os jogos Open World ou Metroidvania.

Em 2009, a empresa de desenvolvimento de games From Software criou Demon's Souls (PS3), um RPG que tinha um foco maior na dificuldade e na constante exploração de um mesmo cenário. Dark Souls (PS3/X360/PC), próximo jogo da From lançado em 2011, conseguiu expandir o game anterior adicionando um mundo interconectado e vivo, causando imersão maior aos jogadores. Algo que Demon's e Dark Souls tem em comum, mesmo se passando em mundos diferentes, é sua atmosfera. O Level Design são bastante complexos e engenhosos, tendo diversos atalhos e caminhos alternativos, além dos jogos apresentarem inimigos que causam um estrago e chefões sinistros, frustrantes e etc.
Porém, em 2015, a From decidiu premiar os fãs da franquia com um jogo que quebra as barreiras de um RPG desafiador, pegando o sentimento mais forte dos games da empresa e colocando tudo em uma nova aventura, porém sem alterar a fórmula que criaram, e assim foi feito Bloodborne!


A ambientação assustadora em Yharnam

Assim como seus antecessores, Bloodborne é um Dark Fantasy (ou Fantasia Sombria) que é um sub-gênero de fantasia com elementos de terror. A Serie Souls contém bastantes características de um Dark Fantasy, se passando num mundo medieval no qual tem a presença de vários lugares e criaturas predominantes do sub-gênero.

Bloodborne se passa geralmente em Yharnam, com ambientação estilo Idade das Trevas "Lovecraftiana", onde tudo foi destruído por feras criadas a partir do uso excessivo do sangue de uma raça divina chamada de "Eminentes". Mesmo com os locais dominados por feras, ainda existem sobreviventes que se escondem em casa sem saber do massacre que ocorre no lado de fora. As vezes é possível ouvir gritos e risadas desses moradores além das próprias criaturas que estão nos arredores. O jogo inteiro se passa numa noite de lua cheia, fazendo com que o clima te obrigue a ser cauteloso, pois nunca se sabe em quais cantos escuros cercados de neblina o inimigo estará a sua espera... aliás, já disse o quão bizarros os inimigos desse jogo são? Todos eles fazem sons aterrorizantes que fazem você molhar o controle. Existe uma grande variedade de monstros no game, indo de cidadãos que perderam totalmente a sanidade até Bestas Clericais!



A movimentação rápida e flexível

Se você jogou Dark Souls, sabe que o seu personagem pode ser bem pesado. De fato, até andar é algo que entedia um pouco, porém Bloodborne traz uma jogabilidade mais frenética em comparação aos Souls, pois o caçador fez uma transmutação com o sangue para se tornar um Super-Humano! Além disso, os inimigos são mais rápidos, afinal eles também fizeram a transmutação, fazendo com que você não esteja sempre sobre vantagem, então aprender os padrões dos movimentos é essencial.

O game introduz um novo acessório, as Armas de Fogo. Diferente dos Escudos de Souls, as armas garantem um sistema de atordoamento simples e veloz. Pessoalmente acho mais fácil as armas para se dar parry, apesar de preferir o escudo para se defender, sendo que em Bloodborne a defesa se vai mais com a esquiva ligeira do caçador.

 

Chefões berrantes e suas lutas


Um dos pilares de um Soulslike são seus chefões complicados. Como já dito, os inimigos são pertubadores, fazendo com que o jogador tenha mais cuidado ao enfrenta-los. Os Bosses são a mesma história.

Os chefes da From software já são bem padronizados, podendo ser criaturas gigantescas ou um único inimigo de porte normal que utiliza ataques rápidos, ou até mesmo dois ou mais inimigos numa área cooperando para mata-lo. Em Bloodborne é a mesma coisa, porém com um elemento único do game: o medo. Todos os Bosses desse jogo são pesadelos por sí só! Assim como você, o caçador que contém o sangue divino correndo nas veias, as feras são rápidas, ágeis e impiedosas, contendo geralmente uma aparência sinistra e sons altos e agoniantes. A música também não ajuda muito, se enquadrando perfeitamente em cada luta e aumentando seu nível de tensão, mas aprofundarei no próximo tópico.

Em tese, assim como como nos Souls, as lutas causam tensão no jogador, fazendo com que ele fique vidrado em cada momento e intimidado a cada ataque visto na tela, e o game consegue botar esse fator no alto, com os movimentos rápidos do oponente e seus sons e aparência bizarros. A união desses fatores cria uma luta tensa que pode te fazer prender a respiração e provavelmente tremer de emoção, porém, não desista, mesmo estando com pouca cura e com a vida menos da metade, continue e vá até onde conseguir, pois é você que definirá seu próximo sentimento. Uma tremenda dor no peito? Ou a satisfação descontrolada? Tudo é definido com seu desempenho, não apenas com a força de seu personagem.


A importância das músicas e seu medidor de dificuldade




A música certamente é um dos elementos mais importantes de uma obra visual, pois ela é o que dá emoção aos acontecimentos e ambientações. Para Bloodborne, a música é um dos pontos que mais prendem o jogador na atmosfera aterrorizante apresentada. Assim como todos os outros jogos da From, a música não é presente sempre, apenas em momentos chave. Nesse tópico, vou dar mais ênfase nas batalhas contra Bosses, pois é lá que a música brilha mais.

Pra começar, sabia que Bloodborne tem sim um medidor de dificuldade? É, você pode não ter percebido, mas o medidor de dificuldade é o volume do jogo. Vá nas configurações e deixe a música e os efeitos sonoros no mínimo e verá que as lutas ficaram mais fáceis. Talvez você se pergunte do motivo disso já que nenhuma estatística foi alterada de fato, apenas o volume do jogo! Isso está totalmente centrado nos nossos próprios estímulos nervosos que nos faz ficar tensos com a atmosfera tenebrosa do game. Perceba que o som é o que o que causa ‘vida’ nessa atmosfera, e se você tirar esse elemento, a tensão será excluída, tornando a batalha mais fácil, pois você não terá o peso da música alta e os gritos das criaturas te travando e assustando.

Além dessa curiosidade, sabia que as músicas do game revelam um pouco da Lore de cada chefe? Sim! Pode-se perceber facilmente que algumas músicas contem legendas em Latin. O significado da letra revela o contexto da situação, ou um pouco da história ou do personagem que está lutando. Isso é genial pois une toda a fanbase para desvendar o significado das músicas que apresentam letras de uma língua esquecida, e vale lembrar que até hoje tentam desvendar algumas canções (lembrando que o jogo foi lançado em 2015).

 

Final da caçada! Presa abatida!


No fim, a From Software entregou um game que conseguiu expor o sentimento mais recorrente nos seus jogos, a intimidação, na sua forma mais pura e desenvolvida sem alterar a base da sua fórmula de gameplay. Os produtores procuraram visar uma atmosfera sombria e mágica (Dark Fantasy) para causar não só o medo, mas a determinação necessária para continuar desvendando os mistérios por trás de tudo, mesmo sem compreender a real finalidade dos acontecimentos. Além disso, o game utiliza suas próprias criaturas e músicas para criar uma sensação feita para que o jogador fique preso naquele mundo impiedoso. A From fez o possível para que seu personagem seja apenas a sua própria caricatura virtual, como se sua alma concentrada estivesse ligada ao seu/sua caçador(a), e isso é imersivo demais. Bem, isso é tudo que tenho a dizer. "Adeus bom(a) caçador(a)"!

Revisão: Gabs