Eu tenho certeza de que você, caro leitor, não viu o Pelé jogar. Não se preocupe, eu também não o vi. “Milagrosamente” seus feitos se perpetuam até hoje e, mesmo que o futebol tenha mudado muito, ainda nos impressionamos com suas jogadas. Na última semana, comemoramos seu 80° aniversário e o sentimento que prevalece é de gratidão ao Rei, que honrou muito a seleção canarinho enquanto jogava.
Início meteórico de uma carreira espetacular
Pelé iniciou no Santos em junho de 1956, após seu antigo técnico Waldemar de Brito o levar para realizar um teste no time profissional santista. Já no início da temporada de 1957, Pelé foi escalado como titular com seus 16 anos e foi convocado para seleção Brasileira pela primeira vez nesse mesmo ano. Pelé estreia em uma derrota por 2 a 1 contra a Argentina. A derrota, porém, não o impediu de deixar sua marca e, aos 16 anos e 9 meses, o Rei se tornou o jogador mais jovem a marcar pela nossa seleção.
Creio que seja conhecimento geral o que ocorreu no ano de 1958, 8 anos após a desgraça do Maracanazo da Copa de 50 - quando o Brasil tomou 2 do Uruguai na Final daquela edição - conquistamos nossa primeira Copa do Mundo Fifa e muito se deve ao rei, autor de 6 gols em apenas 4 jogos disputados, sendo 2 deles na final. Foi eleito a revelação daquele torneio e o segundo melhor jogador da copa, atrás apenas de Didi, o Mr. Football.
![]() |
O jovem Pelé emocionado com o título, na Suécia, em 1958. |
Creio que seja conhecimento geral o que ocorreu no ano de 1958, 8 anos após a desgraça do Maracanazo da Copa de 50 - quando o Brasil tomou 2 do Uruguai na Final daquela edição - conquistamos nossa primeira Copa do Mundo Fifa e muito se deve ao rei, autor de 6 gols em apenas 4 jogos disputados, sendo 2 deles na final. Foi eleito a revelação daquele torneio e o segundo melhor jogador da copa, atrás apenas de Didi, o Mr. Football.
O Auge, fim e algumas explicações devidas
Pelé voltaria a ser campeão do mundo novamente em 62, quando passou a maior parte do Torneio lesionado, e em 70. A seleção de 70 aliás, na minha opinião foi a maior seleção de todos os tempos com monstros consagrados como Tostão, Rivellino, Jairzinho, Gérson, o Canhotinha de Ouro e Carlos Alberto Torres, o eterno Capita.Já pelo Santos, o maior de todos os tempos jogou 1116 partidas e marcou 1091 gols e é até hoje o maior artilheiro da história do clube. No clube alvinegro, Pelé conquistou seu primeiro título também em 1958, um campeonato paulista, garantiu seis Campeonatos Brasileiros, duas libertadores e trouxe nos anos de 62 e de 63 a Copa Intercontinental pra Vila Belmiro.
O camisa 10 do Santos fez carreira nos States também, jogando pelo New York Cosmos. Por lá, o Pérola Negra anotou 64 gols e conquistou a NASL (North American Soccer League). Sua passagem foi tão querida que a camisa de n°10 do clube foi oficialmente aposentada, que é quando o clube deixa de usar um número em homenagem a um atleta em específico, que é uma atitude bastante comum no Basquete.
Faz-se necessário uma breve reflexão acerca de muitas mentiras que cercam a carreira do Rei. Dentre elas, destacam-se aquelas que inferiorizam o futebol brasileiro para, de alguma maneira, ofuscar o brilho que foi a carreira do maior ídolo da nossa seleção. Dizer que Pelé jogava contra fazendeiros, pedreiros e garis é uma de uma grande falta de honestidade. Pelé jogou contra os melhores de sua geração, contra fortíssimos elencos nacionais e internacionais e (SIM!) jogou muito pela Europa.
Aliás, é com certa frequência que se depara com esse argumento de que, por não jogar na Europa, os feitos de Dico, apelido de infância do Pelé, em solo nacional são ínfimos se comparados aos feitos de jogadores que disputavam campeonatos Europeus. Isso é puro Eurocentrismo ou, no melhor dos casos, uma falta de consideração com a importância dos nossos campeonatos tupiniquins.
Entrando rapidamente no mérito dos amistosos, vale ressaltar que muitos clubes Brasileiros preferiam as famosas excursões pela Europa afora a disputar a Copa Libertadores da América, que não tinha a mesma força midiática e nem trazia o retorno financeiro que essas excursões traziam. Essa é uma discussão bem profunda e interessante, quem sabe não abordamos futuramente?
Dentro de campo, Pelé se provou ser digno do título de rei. Diferenciado em seu estilo de jogar, sua extrema habilidade com a bola no pé (ou na cabeça) impressionaram e impressionam os milhões de fãs do esporte bretão. O único jogador tricampeão da Copa do Mundo FIFA coleciona outros inúmeros recordes pessoais, mas seu impacto extracampo compõe boa parte de sua grandeza também.
Pelé como herói
Para a sociedade racista em que estamos inseridos, Pelé não tem nenhuma “pinta” de herói. Ele é um homem preto e de origem humilde, que alçou os maiores vôos, chegando a um patamar inigualável. Pelé não é e nunca foi o rosto que a elite desejaria para o seu rei do futebol, mas não há quem ameace seu trono.
Pelé nasceu e viveu seu auge num Brasil que ainda sofria com as cicatrizes da escravidão. Mesmo sem querer, Edson foi o garoto propaganda de uma suposta democracia racial existente no nosso país, mas é inegável que o simples fato de ver o rosto de um homem negro estampando as principais revistas e os jornais do Brasil significou muito para aquela população negra que o acompanhou durante a carreira, incendiados pela a esperança de dias melhores e de “vencerem na vida” como Pelé venceu.Mas ele não é santo. Infelizmente, controvérsias cercam o ex-jogador. É difícil falar do Pelé sem lembrar da luta que sua falecida filha teve Sandra, no leito de morte praticamente, para ser reconhecida. Um dos erros mais trágicos que o Rei cometeu, sem sombra de dúvidas. Aquele que sempre buscou ser a imagem e semelhança do modelo de jogador perfeito, é implacavelmente atacado por cada um de seus erros, de maneira em alguns pontos injusta.
Outra controvérsia se dá quando tratamos de avaliar a “militância” de Edson. Por mais que tenha sofrido racismo, Pelé não foi o maior ativista enquanto jogador. Na verdade, ele sempre buscou evitar se posicionar nas mais diversas questões. A maior referência do futebol sempre soube que se posicionar implica em quebrar os padrões que a sociedade espera dele. Hoje, o mesmo racismo que o obriga a se calar diante de questões étnicos raciais, ataca-o pelo não posicionamento, tentando, de alguma forma, desmerecer sua carreira e, principalmente, sua representatividade.
Mas fato é que como ele nunca houve e, arrisco em dizer, não haverá outro. Ele é homem que transformou nosso país no “país do futebol”. Ele parou uma guerra. Ele é o único tricampeão mundial como jogador. Ele é o maior goleador de todos os tempos. Ele é o melhor jogador do século. O Pelé é o maior, o melhor. É o único.
Revisão: Gabs