Um prodígio platino

O diminuto craque nasceu em 30 de outubro de 1960 na cidade argentina de Lanús. No alto dos seus 1,65, o canhoto começou sua carreira na base do Argentinos Juniors com apenas nove anos, onde se profissionalizou em 1976, com meros 15 anos, e poucas temporadas depois de Pelé se aposentar no New York Cosmos. Estava ali o seu herdeiro.
Sua carreira teve uma ascensão meteórica. Após se destacar na pequena equipe da bacia do prata, Diego foi transferido para o Boca Juniors. Em apenas uma temporada, o então jovem se destacou de forma memorável no clube xenieze, com sobrenaturais 35 gols em 40 jogos disputados. A forma constante rendeu uma transferência na época valorada para o Barcelona. Como assim? Só a maior da História até então. Isso com meros 22 anos.
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Maradona em 1982. Muita expectativa e pouco resultado |
Na equipe culé, 'El Pibe de Oro' vinha aclamado como um verdadeiro salvador para a sua equipe. Recebera a 10 e era apontado como o principal nome para salvar o Barça do marasmo. Afinal, o time passava por uma seca desde 1974, quando levara o último Campeonato Espanhol. Infelizmente Dieguito não teve muito sucesso nos gramados catalães, e na janela de 1984, foi em uma saída melancólica vendido para o então modesto Napoli, da Itália.
Foi na Espanha que seu principal adversário surgiu. Não, não estou falando do Real Madrid. Na sua autobiografia, lançada anos depois, ele assumiu que sua relação com drogas começara por lá. Esse vício iria se desenvolver em sua vida de uma maneira crucial anos depois.
O auge napolitano
Apesar de todos os problemas e a transferência para o Napoli, o jogador viveu sua apoteose. Sua aura ainda estava intacta entre os italianos. A perseverança dos seus adeptos o manteve lá, e mesmo com todos os casos extracampo, Maradona faturou em 86/87 o Scudetto, condecoração dada aos campeões da primeira divisão italiana.
No mesmo ano o clube celeste conquistava a Copa da Itália. O impacto na equipe italiana foi tão grande, que o apelido D10S foi levado a sério - na cidade de Nápoles, algumas pessoas o veneram literalmente como um santo. Após a saída do Napoli, porém, sua carreira começou a entrar em decadência.
Não é nem sequer necessário falar seu retrospecto na seleção argentina. Foi injustamente cortado em 1978 de última hora. Bateu na trave em 1982, caindo para o Brasil. Mas em 1986 veio o auge na sua carreira.
A Copa no México foi liderada por ele. Uma estrela individual que simplesmente assombrou no mundo. O arranque contra a Inglaterra nas quartas, e o gol que podemos dizer ser o mais famoso de todos os tempos, 'La mano de Dios'. O gênio que vingou dentro dos gramados de jogo os argentinos contra os ingleses. Ele ainda iria para a Itália em 1990 e EUA em 1994, mas sem êxito. Uma convocação para 1998 havia sido cogitada, mas frente a sua fase pessoal, acabou sendo apenas comentarista.
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Diego fora capitão da Argentina em 1986. O auge absoluto na sua carreira |
Ele teve passagens por Sevilla e Newell's, antes de se aposentar no mesmo Boca Juniors já na virada do século em 1997, frente meio aos mesmos problemas extracampo que o acompanharam por uma grande parte da carreira.
Em 1994, enquanto ainda jogava, virou treinador, com passagens destacadas por Racing e a Seleção Argentina, o qual liderou a equipe albiceleste em 2010.
A passagem para a eternidade
O craque já havia flertado com a morte várias vezes antes. A primeira foi em 2000, após tomar um coquetel de remédios no Uruguai. Isso lhe rendeu uma internação em Cuba. No mesmo ano, quase morre em um acidente com sua caminhonete nas ruas de Havana.
Quatro anos depois, é internado enquanto assistia uma partida na Bombonera, diagnosticado com problemas cardíacos, que mais tarde foi evidenciado como uma overdose de cocaína. Em 2007, uma crise hepática por excesso de álcool também o colocou entre a vida e a morte.
Quatro anos depois, é internado enquanto assistia uma partida na Bombonera, diagnosticado com problemas cardíacos, que mais tarde foi evidenciado como uma overdose de cocaína. Em 2007, uma crise hepática por excesso de álcool também o colocou entre a vida e a morte.
Há poucos dias, ele havia passado por uma cirurgia para recuperação de um coágulo no cérebro. Porém os devaneios com seu corpo pediram a conta - morreu hoje de parada cardiorrespiratória. O jogador respirava Futebol. Maradona treinava o modesto Gimnasia y Esgrima.
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Altar de Maradona em Nápoles. Sim, ele é reverenciado como um santo por lá |
Diego deixa o mundo pouco após completar seis décadas, uma Copa, e várias crianças nomeadas em sua homenagem. No vocábulo ludopédico, existe o panteão dos "deuses do Futebol". E hoje, ninguém menos que o próprio D10S se junta como provavelmente como o maior desse coletivo.
A morte de Maradona não se trata de uma simples passagem, se trata de uma projeção para outro plano superior na nossa consciência. Em vida ele já era uma lenda. Na morte, isso se torna algo que traspassa todos os níveis compreensíveis da noção humana. O jogador, tão assombrado por seus fantasmas pessoais, agora tem a chance de se vingar deles. Ainda que essa seja uma vingança silenciosa - e diga-se de passagem - chorosa. O tango se encerrou "Por un Corazón".
Na fé católica, um santo só pode ser canonizado após morrer e tendo dois milagres comprovados. Os milagres foram muito mais de dois, isso já sabemos. Ele fora o líder do orgulho e da memória de um povo. Francisco, outro argentino, deve saber dessa reverência. Um santo que lutou em vida contra seus demônios particulares, agora confirma sua passagem para a eternidade.
Revisão: Da autora