Do Pior ao Melhor – Devil May Cry


A franquia Devil May Cry teve sua estreia em 17 de outubro de 2001, ganhando destaque já a partir de seu primeiro título, este que recebeu aclamação das críticas na época. Desde então, a saga foi se consolidando no panteão do Playstation 2, até passar por uma fase de esquecimento e ter seus direitos vendidos para a Ninja Theory, que produziu um prequel da saga. Anos depois desta venda, a Capcom comprou franquia de volta e lançou, em 2019, Devil May Cry 5, o último a sair até agora.

De início, o projeto do primeiro jogo era uma espécie de spin-off da série de jogos Resident Evil, onde iria se usar o romance "A Divina Comédia" de Dante Aligheri como inspiração. Durante o desenvolvimento do primeiro jogo, os criadores perceberam que a obra estava fugindo muito do que Resident Evil era naquela época, fazendo com o que os desenvolvedores abrissem mão das derivações e lançassem o jogo como um original. Ainda bem!

No ano em que a franquia completa 20 anos de idade, decidi fazer uma lista ranqueada das obras, explicando brevemente o por quê de cada um estar em sua devida posição. É sempre bom deixar claro que listas são coisas muito subjetivas, onde cada um define sua própria quando a cria. A finalidade maior de se fazê-las é o debate e a forma em que conseguimos enumerar ou definir melhor nossos apreços pelas coisas. Sintam-se livre para discordar de qualquer posição e argumentação desde que, é claro, o faça com muito respeito. Adiante, então!





Gostaria muito de saber quem foi o gênio dentro da Capcom que teve a ideia de retirar tudo que havia de excepcional no jogo de estreia e descartar como se não fosse nada além do que a
ideia principal da franquia.

Devil May Cry 2 carece de carisma e qualidade técnica. Dante perde todo o brilho que tinha no primeiro jogo e assume um papel mais sério e esquecível, lutando sem muito estilo também, o que gera um combate em que não temos vontade nenhuma de fazer combos atrás de combos de tão insosso que é seu resultado final. A história sem sal (eu não disse ruim) é a cereja do bolo para fazer do game um belo pedaço de… nada.

É unânime entre todos que discutirem a respeito da franquia de que o segundo jogo é um erro. Mas um erro importante, diga-se de passagem, já que serviu de lembrete para Capcom não repetir a presepada.

Notaram que eu nem mencionei a Lucia? Então… Potencial desperdiçado em meio a este turbilhão de desinteresse.

Ah, e você consegue fechar toda a campanha principal usando apenas a Ebony & Ivory. É sério. Passe longe, você não está perdendo nada.






A parte da subjetividade em listas começa aqui. Devil May Cry 4 é bom.

Mas é maçante, mesmo com seu tempo curto de campanha.

Maçante pois após a Missão11 temos de literalmente voltar por todo o caminho trilhado por Nero e enfrentar os mesmos inimigos e chefes. Ao meu ver, foi um excesso de falta de criatividade por parte da Capcom, como se estivessem reciclando no orçamento do jogo. Mesmo que todo esse retorno pelo mapa seja feito através do amado Dante, a sensação de cansaço ou falta de vontade em continuar jogando pesa bastante por causa desse fator, onde os cenários pouco inspirados também não ajuda em nada. É como se não estivéssemos indo para a frente com a história.

E, de um certo ponto de vista, não vamos. A narrativa principal só volta a andar com as duas pernas nas últimas missões mesmo.

Se eu deixei este aqui acima do anterior, é porque a gameplay FUNCIONA. Descer o sarrafo nos inimigos seja pelas mãos de Dante ou Nero é satisfatório, e a adição do Vergil na Special Edition de 2015 foi mais do que bem-vinda. Mesmo não sendo em seu máximo potencial, o senso divertido da franquia está aqui.





Há muitos defeitos aqui que vão além da parte técnica (esta que não tem muitos como saem dizendo por aí).

Primeiro: o Dante mais jovem foi um tiro no pé da Ninja Theory, tanto que no primeiro vídeo de divulgação do jogo a comunidade gamer (esta que é adorada por todas as tribos sociais urbanas) causou seu alvoroço padrão em cima da desenvolvedora. O visual do protagonista mais jovem não ficou ruim, mas o saudosismo que temos pelo Dante husbando falou mais alto na época.

Segundo: vazio que sentimos ao acreditar que nunca mais veríamos os personagens “originais” novamente (graças aos céus e infernos nós estávamos errados!) deixou muitos com o nariz torcido enquanto seguiam no jogo. Já que a franquia estava nos porões da Capcom (alô, Megaman!) antes de ser vendida, esse vazio só aumentava cada vez mais.

Terceiro, o visual mais punk e com um estilo divergente em relação aos outros jogos. Mas aqui é um meio termo.

DmC: Devil May Cry é um Devil May Cry americanizado. Só que a Ninja Theory fez isso direito. Todo o hud e logotipo do jogo tem uma pegada grafitada, os cenários do mundo dos demônios são preenchidos com vermelho, caos e desordem, nos lembrando ou nos fazendo ter uma verdadeira sensação de apocalipse. Os visuais de Dante e Vergil são semelhantes ao ponto de quase confundir os gêmeos, mas, é claro, as cores dominantes e até mesmo postura de cada um condizem com suas personalidades, além da forma de cada um em lutar.

E a arma principal da série não fica abaixo da média. Os combos aqui são fluídos e a árvore de habilidades é chamativa, com aquela pegada prazerosa de não querer parar até acertar uma sequência visualmente charmosa de golpes. Um hack’n slash digno de respeito, no mínimo. Uma pena ser tão subestimado até hoje só pela inversão proporcional dos choques de cultura entre dois países.

Faço uma ressalva aqui pro breve momento no clímax do jogo onde há um breve diálogo sobre a cegueira daqueles que se acham superiores ao não enxergarem a importância e força daqueles que consideram inferiores. Quem jogou e prestou atenção sabe do que estou falando.





Quem sou eu pra colocar o precursor de toda a saga e o mais bem avaliado pela crítica em terceiro lugar e não em primeiro, né? E quem é você com mais de 18 anos nas costas pra ficar com birrinha e não aceitar a evolução daquilo que tem potencial de evolução, não?

O responsável por dar início a toda uma franquia que é a vanguarda do gênero é, de fato, um jogo incrível e importante, mas não o melhor de todos justamente por ser a jóia bruta que ele é. Jogabilidade exímia, trilha eletrizante, cenários sombrios, ambientação tensa, personagens cativantes... Tudo excelente para sua época. Mas, olhando agora, fica nítido como faltava mais aperitivos na hora do combate. São poucas variações de movimentos e me senti sempre fazendo a mesma sequência na hora de lutar contra qualquer inimigo. Isso não anula a qualidade das coisas que são dadas para nós brincarmos aqui, que fique bem claro.

Outra coisa muito importante que o jogo nos trouxe foi o sistema de pontos. Toda a perseverança que temos em tentar fazer Rank S nos jogos começou e de forma bem presente aqui, onde sempre tentamos buscar nosso melhor na hora de pontuar e perceber que, mesmo não alcançando o resultado esperado, sabíamos que o fracasso estava nos levando para algum lugar.





E que arrasador foi o despertar de Dante, meus amigos!

Após a falta de bom senso que foi o segundo jogo, a Capcom reorganizou a casa do caçador de demônios e resolveu voltar no tempo, criando então a história onde Dante abre sua loja e desperta seus poderes, consolidando-se tornando um dos personagens mais carismáticos dos games. Aqui também conhecemos melhor seu irmão gêmeo Vergil, que também consegue roubar a cena mesmo sendo o oposto do irmão nos ideais. Ponto pra Capcom.

Elogiar qualquer coisa envolvendo batalhas nesse jogo seria chover no molhado. Variedade diversificada de armas, golpes e combos, sistema de pontuação que te faz querer superar a si mesmo nas missões e lutas contra chefes mais do que excelentes e marcantes. Lutar contra Cerberus ao som disso aqui é revigorante! Isso sem falar em Agni & Rudra, Beowulf, Nevan e principalmente o próprio Vergil.

Não dá pra dizer que a história fica pra trás, porque isso não acontece. O conceito de família, introduzido em diferentes pontos de vista (humano e demônio) acabam se divergindo e fazendo com que a história ande pra uma conclusão emocionante e lembrada por todos que jogaram. Foi um Jackpot! e tanto da Capcom, isso é inegável. Devil May Cry 3 entra facilmente em qualquer top 10 sobre jogos de Playstation 2 ou até mesmo sobre os melhores da década de 2000.






Frustation is getting bigger.

Bang, bang, bang, pull my devil trigger!


Até o início deste ano, eu tinha Devil May Cry 3 como favorito da franquia justamente por ser o ápice do que eu tinha experimentado em um hack’n slash. Imagine então como eu fiquei quando joguei algo que superou isso.

Pegue todos os elementos divertidos que fizeram a franquia ser aclamada mundialmente e potencialize. Exponencie. Injete direto na veia. Temos Devil May Cry 5.

Certo, vamos do início: sua história. Reinventa a roda? Não. Seu final não é arriscado, mas nem de longe é anticlimático. Mas ela é boa? Para o padrão da franquia, mais do que sim. Momentos e momentos que aumentam nosso apreço e gosto por personagens que já amamos no fundo da alma, além de um uso muito bem-vindo da atual tecnologia para aprofundá-los cada vez mais.

I always wondered... Why did my father give me the Rebellion?

O sistema de combate? Elavado a máxima potência. Combinação sádica e fluída de armas diversificadas e um novo devil trigger apelão para Dante. Troca de braços mecânicos e úteis para Nero e animais obscuros para V, que luta à distância. Cada personagem exige um estilo diferente de gameplay que funciona e aumenta sua variedade, levando você ao limite com os níveis mais difíceis da campanha e o cultuado Bloody Palace. Nem preciso mencionar o sistema de ranking, que com esse aumento na diversidade fica ainda mais sádico e cativante.

Os gráficos? Ah, cara. Alguma alma no mundo ainda não sente um orgasmo visual ao ver a RE Engine? Esse motor gráfico foi um presente divino para a Capcom, que usa e abusa da beleza visual e mecânica, trazendo cenários muito mais inspirados e bagunçados. Um espetáculo visual!

E sonoro também. O investimento nas músicas aqui foi mais pesado, nos trazendo canções que, durante a gameplay, aumentam nossa adrenalina na hora de aplicar os combos e nossa satisfação ao derrotar os oponentes da maneira mais estilosa possível.

Creio eu que, se muita gente não prefere esse jogo em relação aos demais, é porque está em um transe frustrado sobre dramas shakesperianos sem encostar num livro decente há pelo menos meia década. Ninguém que se preze vai jogar Devil May Cry para ver uma história mais complexa e funda que a Fossa das Marianas, e sim para descer o sarrafo nos inimigos. Em meio a uma comunidade que fica se doendo por ficar analisando linhas de fala por linhas de fala a troco de nada, a Capcom reacendeu algo em mim com esse jogo que eu não sentia faz um bom tempo: a vontade de ficar horas e horas com o controle na mão fazendo a mesma coisa sem vontade de parar pelo puro apreço da diversão. Falta isso nas pessoas hoje em dia: se divertir um pouco mais e com um sorriso no rosto. Faz bem pro coração, acredite.

Junte tudo isso e nós temos o ápice. É simples. Devil May Cry 5 é o pináculo do que o gênero pode fazer com a tecnologia atual. Duvido muito que a nova geração consiga fazer algo do estilo melhor do que isso daqui. E se o fizer, tenho muita fé de que será um próximo Devil May Cry.